Pessoa do século, álcool, eventos de startups, escrever melhor e outras coisas
Álcool
Eu tenho uma tese de que em até 50 anos, beber álcool vai ser uma versão light de fumar cigarro. Uma coisa que um número alto de pessoas despreza, mas mantém em silêncio pra não parecer chato.
A humanidade está caminhando cada vez mais para um estilo de vida saudável, os prejuízos que o álcool trás estão cada vez mais evidentes e o mercado de bebidas não alcólicas está crescendo. Mais de 2.8 milhões de mortes prematuras globalmente são causadas por consumo de álcool. A Heineken, Budweiser, Estrela Galicia, Brahama, Itapaiva e outras já lançaram suas versões de cerveja sem álcool. O mercado total desse tipo de cerveja vai chegar em USD 45 bilhões de dólares em 2025, crescendo 10% ao ano.
Um dos meus frameworks para decidir se alguma coisa é boa ou ruim é o utilitarismo: a somatória de felicidade que essa coisa gera no mundo é positiva ou negativa?
Consumo de álcool gera um somatório positivo ou negativo? É óbvio que consumir álcool gera felicidade. É divertido beber. Mas se somarmos toda a dor causada por acidentes de trânsito, violência doméstica, doenças graves, alcoolismo e outras coisas, o mundo é um lugar melhor ou pior com o consumo de álcool?
Escrever melhor
Tem uma técnica muito boa pra escrever melhor: escreva como se você estivesse falando. A maioria das pessoas escreve textos chatos porque tenta parecer mais inteligente usando palavras que não usariam se estivessem conversando com alguém. Se você quiser escrever melhor, escreva o texto inteiro do seu jeito, leia em voz alta e depois ajuste tudo para parecer que você está explicando para um amigo.
Outro jeito é alterar períodos longos com períodos curtos. Muita gente pensa que escrever é 100% sobre conteúdo, mas a forma tem um papel muito tão importante quanto. É como se você estivesse pintando um quadro: não só a mensagem que você passa é importante; a estética tem um quase tão fundamental.
Pessoas legais
De vez em quando eu vou em eventos de empreendedorismo, organizados por startups ou fundos de ventre capital. O que sempre me surpreende é como as pessoas são legais umas com as outras. É muito raro ir em algum lugar onde a maioria das pessoas são legais. Quando eu falo isso para amigos que trabalham em bancos ou escritórios de advocacia, eles ficam surpresos porque dizem que os eventos dessas áreas são cheias de pessoas orgulhosas e exibidas.
Por que as pessoas são tão legais umas com as outras em eventos de startups? Porque todas elas estão tentando fazer uma coisa cujas chances de sucesso são baixíssimas. É como se todos estivessem ali unidos para fazer uma terapia coletiva. É um contrato social silencioso de empatia. Esses eventos funcionam como um tipo de “alcoólatras anônimos” para fundadores de startups: um lugar onde é perfeitamente aceito demonstrar vulnerabilidade e onde o único caminho para ser bem aceito é ser humilde. Com certeza existem pessoas desagradáveis, mas são poucas a ponto de eu não me lembrar de nenhuma.
Voltar no tempo
Se você pudesse voltar no tempo, pra que época você iria? O Tim Urban escolheu uma época muito boa:
“Se eu pudesse voltar no tempo para qualquer lugar, eu acho que eu iria para onde Jesus Cristo estava no dia 31 de dezembro A.C, o último dia considerado “antes de cristo”. Jesus tinha na época alguma coisa entre 2 e 7 anos. Quando o relógio alcançasse meia noite, enquanto aquela criança estivesse dormindo, eu quero ficar chocado sabendo que tudo no passado até aquele ponto vai ser conhecido eternamente por Antes de Cristo. Seria legal também acordar no dia seguinte e saber que a data é 1/1/1.”
Pessoa do século
Quem será eleita a pessoa do século em 2099 pela Time Magazine, como Einstein foi em 1999? É mais fácil começar dizendo quem tem poucas chances: políticos e artistas. Políticos por natureza são odiados um número grande demais de pessoas e seu impacto na sociedade dificilmente acontece na mesma intensidade no oriente e no ocidente. Artistas também não: sua capacidade de influenciar o modus-operandi da sociedade é limitado demais.
Restam empresários, cientistas e ativistas. Vou chutar aqui: das pessoas que passaram pelo século 21, as mais prováveis até agora de serem reconhecidas dessa forma são Elon Musk, Bill Gates e Steve Jobs.
Musk tenta alcançar objetivos muito ambiciosos: acelerar a transição de combustíveis fósseis para eletricidade para retardar o aquecimento global (Tesla), construir e escalar uma colônia humana em Marte (SpaceX), permitir que informação seja transferida de uma mente para outra (Neuralink), resolver o transporte público nas cidades (Boring Company), acelerar o desenvolvimento de inteligência artificial (OpenAI), entre outras coisas. Por mais polêmico que ele seja, a execução de seus planos até agora se mostrou quase impecável. Recentemente ele tem se envolvido em muitas polêmicas, mas elas passam ilesas quando pensamos no impacto que Musk já teve sobre a sociedade. Einstein foi tão polêmico quanto: suas teorias permitiram a criação da bomba atômica. Ser polêmico não é um fator excludente para ser a pessoa do século, é quase necessário.
Bill Gates é o maior filantropo do século 21. A fundação Bill e Melinda Gates foi a responsável por erradicar a poliomielite no mundo, diminuir drasticamente a presença de outras doenças nos países subdesenvolvidos e trabalha com várias iniciativas promissoras para acabar com a fome e trazer água e eletricidade para quem não tem. Gates também criou o Giving Pledge: uma iniciativa sem precedentes que convence bilionários a doar boa parte da sua fortuna ainda em vida. Um bom candidato para pessoa do século porque os próximos 20 anos podem ser ainda mais relevantes.
Dos três, Jobs talvez tenha sido a pessoa que mais influenciou o comportamento da sociedade até agora. Ele popularizou o computador pessoal, colocou a internet no bolso das pessoas e reinventou a forma que software é distribuído. Essas invenções permitiram um crescimento econômico poucas vezes visto na humanidade e o desenvolvimento da maioria das empresas de internet, como Google, Meta e Amazon.
Mas se ainda faltam quase 80 anos para a pessoa do século ser escolhida, como é possível afirmar que Musk, Gates e Jobs tem tantas chances? Certamente surgirão pessoas extraordinárias nos próximos anos. O contra-argumento disso é que a pessoa que será escolhida tem que começar a plantar os frutos da sua revolução logo no início do século, como Einstein começou a fazer em 1920 com a teoria da relatividade.
Telemarketing
Poucas coisas juntam tanto ódio quanto o telemarketing. Eu não conheço ninguém que comprou empréstimo, imóvel ou internet quando recebeu uma ligação.
Como então esse modelo se sustenta? Como as vendas feitas por telemarketing superam os custos de manter pessoas fazendo centenas de ligações diariamente? Certamente esse modelo é lucrativo, caso contrário não existiria. Mas como?
Sotaques
É impressionante como o sotaque faz as pessoas parecerem que tem uma personalidade diferente. Pessoas com sotaque nordestino parecem mais calmas, gentis e simpáticas. Pessoas com sotaque do sul/sudeste parecem mais sérias, objetivas, menos receptivas e um pouquinho mais esnobes. Se você pegar a mesma frase dita por um nordestino, mas dita por um paulista, vai parecer que a mensagem é outra.
Sonhos
É muito difícil explicar para os outros um sonho que você teve porque a clareza das imagens só está presente na sua cabeça. Imagina se fosse possível gravar nossos sonhos? Se existisse uma máquina que fosse conectada na nossa cabeça enquanto dormimos e, quando acordássemos, fosse possível dar play e assistir nosso sonho inteiro em alta definição? Pense nos sonhos mais absurdos e complexos que você já teve na vida, aqueles que você nunca esqueceu. Como seria poder assistí-los quando quiser?
Nenhum sonho se pode contar. Seria preciso uma língua sonhada para que o devaneio fosse transmissível. Não há essa ponte. Um sonho só pode ser contado num outro sonho - O outro pé da sereia, Mia Couto.